ENTREVISTA
– Mais um ano, mais uma temporada terminada entre os 50 primeiros. Que análise fazes a esta época do João e ao trabalho que realizaram nos últimos 12 meses?
A época de 2016 foi positiva. Concluimos a temporada e temos um João muito mais competitivo e estável psicologicamente. Temos um João capacitado para estar competitivo em torneios 250, Masters 1000 e Grand Slams.
Hoje, com frequência vemos o João entrar num court central de um Masters 1000 ou Grand Slam e a defrontar um jogador top 10 e com mentalidade de igualdade.
Conseguimos concretizar praticamente todos os objectivos que tinhamos definido, desde a presença e vitórias nos Jogos Olímpicos, quartos de final num torneio Masters 1000 e até 3 vezes terceira ronda em Grand Slams.
– Qual foi a diferença deste ano, em que o João não jogou finais, em relação aos anteriores em termos de preparação (ao longo do ano), visto que o objetivo da época variou?
Alguns dos principais objectivos para 2016 passavam por estarmos mais competitivos nos torneios grandes, conseguirmos mais rondas em Masters 1000 e Grand Slams. Tal permitiria competir com mais frequência nos grandes palcos do tenis e contra jogadores top 10.
O foco do meu trabalho foi para que o João chegasse na máxima força aos melhores torneios e assim pudesse jogar mais de igual para igual com eles.
– Depois de Madrid, o João tornou-se no primeiro português de sempre a entrar no top 30 mundial. Estes registos inéditos que vão conseguindo ao longo dos anos têm influência na confiança e na forma como enfrentam as semanas seguintes?
Nos últimos anos, sempre fizemos bons resultados em torneios mais “pequenos” antes de chegarmos aos mais importantes e quando lá chegávamos já levávamos muito desgaste quando defrontávamos top 10.
Este ano, além das vitorias prévias a jogadores top 50, tivemos um João muito mais competitivo contra jogadores como Nadal, Murray, Nishikori, Berdych, entre outros.
Foi o ano com mais sets ganhos a jogadores top 10, mas ainda não chega. Precisamos de mais.
– Foi um ano com alguns altos e baixos, com derrotas difíceis mas também vitórias e momentos espetaculares. Como é que se gerem as emoções ao longo destas fases e se faz “reset ao chip” de semana para semana?
Somos profissionais e deixamos tudo, absolutamente tudo no nosso trabalho. Além disso somos muito amigos e a confiança que temos um no outro é gigante. O João sabe que eu dei tudo na sua preparação para o encontro e eu sei que ele deu no encontro. Quando tal acontece, é mais fácil partir para a semana seguinte.
Tanto eu como o João temos um gosto enorme por aprender, quando as coisas não correm bem falamos, pensamos e voltamos a falar para no dia seguinte tentar melhorar. O dialogo é muito importante, mas o ouvir ainda mais… Mas o reset é total ao pequeno almoço. Temos que aprender com os momentos bons e menos bons. O bom do ténis é que temos sempre uma nova competição na semana seguinte.
– Estiveste em todos os momentos perto da seleção nacional da Taça Davis. Como pessoa que está por dentro da equipa e agora que já são conhecidos os adversários de Portugal, como vês as possibilidades de Portugal chegar ao Grupo Mundial?
Um dos principais objectivos para 2017 passa por poder ajudar a seleção nacional a subir para o Grupo Mundial. Portugal tem uma grande seleção de jogadores e equipa técnica, para não falar do público quando joga em casa. Somos um dos principais favoritos para chegar ao play off.
– Como foi viver a experiência de ir aos Jogos Olímpicos e estar ao lado dos melhores treinadores e atletas das diferentes modalidades?
Estar nos Jogos Olímpicos foi muito bonito mas não saí feliz. Tanto o João como o Gastão poderiam ter feito melhor em termos de resultados. São dois atletas com nível muito mais alto do que uma segunda ronda, por isso não saí com a melhor das sensações.
– Depois de vários anos no circuito e a somar vitórias nos maiores torneios do mundo, quais são os objetivos para o próximo ano (e, quem sabe, os seguintes)?
Para 2017 quero que o João esteja cada vez melhor posicionado em campo e ainda mais ambicioso.
A minha ambição como treinador hoje em dia passa por ajudar o João a chegar aos primeiros 20 do ranking ATP.
– Voltar a conquistar um torneio ATP é uma prioridade para 2017?
Ganhar títulos é muito bonito mas eu trabalho para que o João melhore e vença os melhores nos grandes palcos. Se vencer os melhores em grandes torneios o ranking e os títulos estão mais próximos.
– Como é que vai ser ser um pai-treinador a tempo inteiro? Há uma estratégia delineada ou vão “improvisar”?
Ser pai e viajar tantas semanas não vai ser fácil mas sou muito profissional e tenho a sorte de ter uma grande mulher que me apoia em todos os momentos. Quando se quer tudo é possível e é só uma questão de jeito. Vou estar, como sempre, a 100% com o João.
– Pelo segundo ano consecutivo, o Rafael Nadal convidou-vos para uma semana de treinos. O convite surpreendeu-te? Quais serão os objetivos/focos do treino dessa semana?
Temos uma grande relação com o Nadal, assim como com a sua equipa técnica. Existe uma grande amizade e confiança. As equipas técnicas trocam muitas ideias e os jogadores também.
Vamos realizar uma primeira parte da semana com muita troca de bola, muitos baldes em conjunto e muita intensidade na movimentação e golpes. A segunda parte da semana vai ser mais competitiva, com muitos sets de treino.
– Para além desses dias com o Nadal, onde é que vão preparar 2017? E como? Há algum aspeto específico do jogo que procuram melhorar?
Este ano vamos realizar 6 semanas de pré-época. Vamos fazer 3 semanas em Barcelona, depois uma com o Rafa Nadal e as seguintes semanas vamos treinar novamente em Barcelona. Barcelona é uma cidade incrível para realizar treinos competitivos, ja temos treinos agendados com o Tommy Robredo, Albert Ramos, Karen Khachanov, Richard Gasquet, Pablo Carreno, entre outros…
– Como é que viste a ascensão do Andy Murray ao número um Mundial depois de dois anos de domínio por parte do Djokovic? Era algo que esperavas?
A ascensão do Andy foi perfeitamente normal para mim. O Novak tinha estado a um nível muito alto nos últimos anos e com uma regularidade incrível. Não é fácil manter tanta regularidade física e mental durante tantas semanas.
Além disso, penso que os índices de motivação do Novak baixaram após a derrota nos Jogos Olímpicos. A derrota com o Del Potro fez estragos certamente. Era o principal candidato e estamos a falar de uma competição que lhe faltava e não sabemos como é que vai chegar a 2020.
– Já com alguns anos de circuito nas pernas, quais foram os treinadores/jogadores que mais te marcaram pelos seus métodos de treino? Existe alguma troca de ideias durante os torneios?
Apredi com muitos treinadores, muitos nem sabem que vi e filmei treinos deles. Sou uma pessoa tímida e reservada. Vou muitas vezes pelos torneios caladinho, vejo treinos e filmo golpes para analisar quando estou em Barcelona.
– Enquanto treinador, o que é que te faz sentir mais realizado?
Não sou uma pessoa de me sentir realizado, quero sempre mais e mais. Quem me conhece sabe que nunca estou contente. Por vezes gostava de poder desfrutar do momento mas não consigo.
– Quais consideras serem os aspetos mais importantes para um jogador ser bem sucedido no circuito ATP nos dias de hoje?
Para mim, um tenista hoje em dia para chegar ao mais alto nível no circuito ATP tem que realizar muito bem 3 aspectos: ter um bom servico, responder bem ao serviço e ter uma grande segunda bola tanto depois do serviço como da resposta. Se tal acontecer, a probabilidade de vencer encontros aumenta.
Os princípios de jogada são essenciais hoje em dia, visto que cada vez existem mais torneios em superfícies rápidas e o desporto está cada vez mais físico.
– E o jogador ideal, como é que o defines?
O jogador ideal é o jogador bom ouvinte, trabalhador e humilde.