2016 foi uma época de conquistas e afirmação para Gastão Elias entre os 100 melhores tenistas do Mundo. Desde a vitória em Turim que o catapultou para os 100 primeiros às “portas” do Millennium Estoril Open às meias-finais consecutivas em torneios ATP, a chegada aos Jogos Olímpicos e a vitória sobre Gael Monfils, o jogador português de 26 anos viveu o melhor ano da carreira e, numa entrevista exclusiva ao Ténis Portugal, refletiu sobre os últimos 12 meses, mas também os que se seguem e os próximos objetivos a alcançar.
A entrevista foi dividida em duas partes: a primeira está disponível para leitura neste mesmo artigo; a segunda, em que Gastão Elias fala de algumas das decisões tomadas e os aspetos decisivos para ter dado o “salto”, entre outros temas, será publicada terça-feira, dia 6 de dezembro.
ENTREVISTA
– Quando marcámos esta entrevista referiste que ias para Buenos Aires preparar 2017. Podes falar-nos um pouco do que vai acontecer nas próximas semanas?
Até agora tive uns treinos físicos mas nada de mais, a preparação começa na segunda-feira [hoje, data de publicação da entrevista]. O Fabian [Blengino] vai continuar a ser o meu treinador em 2017 e como vamos fazer tudo aqui em Buenos Aires vamos andar de um lado para o outro e há muitos jogadores que também optam por fazer a pré-época aqui.
– O jornal Record chegou a falar da possibilidade de treinares com o Del Potro…
Ele acabou agora a Taça Davis e os jogadores que jogam a final começam sempre a preparação mais tarde, porque ainda estão a descansar no início do mês, mas pode ser que aconteça lá mais para o final do mês.
– Fala-nos um bocadinho desta época de 2016: quais consideras terem sido os pontos altos do ano? E pontos baixos, houve?
Acho que foi um ano de mais altos e médios do que altos e baixos. Os pontos altos foram sem dúvida a entrada no top 100, as minhas duas meias-finais consecutivas em torneios ATP e depois obviamente a vitória no final do ano, contra o Gael Monfils, em Estocolmo.
O que sinto é que houve uma fase menos boa depois dos Jogos Olímpicos, em que perdi alguns jogos seguidos, mas mesmo assim não os considero pontos baixos porque me sentia numa fase de adaptação em que não estava a jogar mal mas também não estava a fazer bem o que queria.
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– E o momento mais bonito do ano?
É difícil, é difícil. Estou inclinado para a vitória frente ao Monfils mas entrar no top 100 também foi espetacular. Mas acho que isso já sentia que mais tarde ou mais cedo ia chegar lá e era uma coisa para a qual já estava preparado mentalmente, apesar de ter tido um impacto grande. Acho que com o Monfils foi ainda maior porque era algo de que não estava à espera, foi uma grande surpresa e ainda por cima por ter sido em rápido indoor, um piso em que eu não tinha estado a jogar muito bem, ainda foi mais surpreendente e fiquei mais contente.
Acho que estes foram os momentos que mais me marcaram. Gostava de ter feito algo de interessante em Portugal, ainda tivemos a Davis mas não consegui fazer nada. Foi bonito, esteve quase [6-3, 5-7, 3-6, 6-1, 6-7(6) frente a Dominic Thiem na Taça Davis, em Guimarães, no mês de março] mas não consegui.
– Para te complicar ainda mais a tarefa, e a melhor recordação da carreira?
Eish, não me façam isso [risos]. Da carreira? Acho que foram estes dois acontecimentos de 2016 e talvez a vitória contra o Guillermo Garcia-Lopez no Centralito, em 2014.
– Poucos dias antes de receberes a notícia de que irias aos Jogos Olímpicos estiveste connosco em estúdio, no Ténis Portugal na Rádio, e a confiança já não era muita porque ainda tinhas muitos jogadores à tua frente. Agora que o ano acabou e lá estiveste a concretizar um dos teus sonhos, como é que olhas para essa semana? Quais são as memórias que mais queres guardar e um dia contar às pessoas de quem fores próximo?
A resposta é um bocadinho cliché, mas é verdade: foi uma experiência única, uma coisa que vou levar para a vida. Sei que poucos atletas do Mundo têm oportunidade de passar por ela e ainda mais por não estar nada à espera de entrar e de repente ter essa oportunidade fiquei muito feliz.
– E seres o primeiro português da história a vencer em singulares…
Exatamente, por horas mas fui. Depois, termos conseguido entrar de pares — que já merecíamos ter entrado mais cedo — também foi uma experiência única: jogar ao lado do João, uma pessoa pessoa com quem convivo desde os 10, 12 anos de idade, e passados estes anos todos estarmos os dois a representar Portugal nos Jogos Olímpicos foi um momento marcante.
São momentos em que só alguns atletas no Mundo podem dizer ter participado. Estar na Aldeia Olímpica, na Cerimónia de Abertura são coisas únicas que o dinheiro não compra. É capaz de comprar uma box [camarote]ali perto, mas em baixo, estar ali no campo, isso não compra.
– 2017 será a primeira vez que começas uma época dentro do top 100. Já tens objetivos definidos? Há alguma marca que queiras mesmo atingir nos próximos 12 meses?
Sim, estive perto dos 50 primeiros mas ainda não foi desta que consegui mas esse é sem dúvida um objetivo para o próximo ano. Quero chegar a um ranking que me permita jogar todos os quadros principais de torneios ATP, mesmo os dos Masters. Um ranking confortável.
– E depois daquelas duas meias-finais, já sonhas com um título?
Sim, sempre sonhei mas agora cada vez me sinto a aproximar mais disso. De meia-final para campeão ainda vai um “passito” ou dois mas pelo menos posso dizer que me estou a aproximar, já são menos passos e acredito que um dia conseguirei atingir esse objetivo e conquistar um torneio ATP . Confio nas pessoas com quem trabalho e acredito que faço as coisas certas, portanto não estou preocupado.
– Será em terra?
[risos]Não sei, qual é o meu piso preferido neste momento? Como é que eu respondo a essa pergunta?
– Agora ficou mais difícil?
Não, não ficou difícil [risos]. Sempre preferi piso rápido porque joguei muitos anos em piso rápido, mas nos últimos quatro, cinco anos joguei muito pouco nessa superfície e fui-me habituando mais à terra. Talvez agora tenha um estilo de jogo mais para terra do que para rápido, mas a minha melhor vitória de todos os tempos foi em rápido, frente a um jogador que foi ao Masters, por isso não sei… Mas por mim pode ser em qualquer piso, até pode ser em relva [risos].
– Já por algumas vezes referiste que “psicologicamente, é diferente para um jogador enfrentar o número 101 ou o número 99”. Nesse sentido, achas que o facto de Portugal ter dois jogadores bem dentro do top 100 mundial pode fazer a diferença na caminhada na Taça Davis?
Acho que à medida que vamos subindo no ranking, tanto eu como os outros portugueses e agora com dois jogadores no top 100, nos vão respeitando cada vez mais. Talvez há uns tempos olhassem só para o João como uma ameaça e agora acredito que sintam que eu também o sou. Agora somos dois no top 100 mas quantos mais formos melhor. Mas acredito que sim, faz a diferença mentalmente uma equipa defrontar jogadores dentro do top 100 ou não.
– E em relação ao circuito ATP, a relação com os restantes jogadores mudou de alguma forma desde que conseguiste estes resultados mais difíceis? Sentes que olham para ti de forma diferente?
Talvez. Tenho passado mais tempo com esses jogadores, tenho competido quase todas as semanas com eles portanto acabam por me conhecer um bocadinho melhor e com estas vitórias que tive, frente ao Cuevas também, duas meias-finais consecutivas e alguns outros resultados, acho que vêem que não é só uma coisa esporádica mas sim mais frequente e que me mantenho a este nível. Tendo isso em conta, acho que depois sentem que têm de prestar mais atenção e ter cuidado, porque vêem que estou ali e posso ser perigoso. É diferente de aparecer de vez em quando nos torneios e eles saberem que é assim e que não pertenço àquele grupo e que em certo momento do jogo posso fazer uma asneira. Vendo-os constantemente todas as semanas e competindo contra eles vão criando algum respeito e isso é importante.
A segunda parte da entrevista exclusiva do Ténis Portugal a Gastão Elias, na qual o tenista português fala de algumas das decisões tomadas e os aspetos decisivos para ter dado o “salto”, entre outros temas, será publicada terça-feira, dia 6 de dezembro.