Dos torneios do Grand Slam, onde alcançou os objetivos a que se tinha proposto, aos Jogos Olímpicos e sempre com os olhos postos no sucesso com a camisola de Portugal “ao peito”, JOÃO SOUSA é o primeiro entrevistado do Ténis Portugal neste final de época. Nesta conversa, o tenista vimaranense reflete sobre os últimos meses — quer a nível pessoal, quer do circuito — e dos objetivos para os próximos.
ENTREVISTA
– Há um ano disseste-nos que tinhas como um dos objetivos para 2016 conseguires bons resultados nos “torneios grandes”. Agora que a época chegou ao fim, que balanço fazes?
Foi um ano positivo. Tive alguns altos e baixos ao longo da temporada mas consegui cumprir precisamente esses objetivos a que me tinha proposto, de vencer mais jogos nos torneios importantes, os do Grand Slam e Masters 1000, e em que consegui o melhor ranking da minha carreira.
– O que é que correu melhor… E pior?
Não acho que tenha corrido nada mal. Como disse, consegui ir de encontro a essa vontade, a esse desejo de vencer mais encontros nos torneios mais importantes. Foi um ano com alguns altos e alguns baixos em que me consegui manter quase sempre nos 40 primeiros. Só no final da época é que desci para o top 50 porque tinha alguns pontos a defender da temporada transacta, senão estive sempre entre os 40 melhores.
– No meio desta época há uma semana que parece fundamental, que é a de Madrid, em que “encostaste” o Nadal “às cordas” e entraste pela primeira vez no top 30 mundial. Como é que te foste sentindo ao longo daqueles dias que se tornaram em mais um momento histórico do ténis português? Houve alguma pressão extra?
Não, não, fui jogando jogo a jogo e aproveitando o momento e o facto de estar a progredir no torneio até que chegou a altura de defrontar o Rafa, um dos melhores de sempre, num grande estádio e nos meus primeiros quartos de final.
Foi uma grande semana, muito importante para mim e sem dúvida o momento alto do ano. Fiquei muito feliz por entrar pela primeira vez no top 30 mundial e consegui uma exibição muito boa contra um dos melhores de sempre, que precisamente por isso conseguiu sair por cima nos momentos decisivos.
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– Por falar em grandes palcos, este ano estiveste por três vezes muito perto da sempre falada segunda semana em torneios “Major”. Sentes que falta alguma coisa para lá chegares?
Como disse, foi o meu melhor ano em torneios do Grand Slam, cheguei à terceira ronda por três vezes e portanto só não o consegui num deles [segunda ronda em Roland Garros], o que fez com que tenha superado bastante as épocas anteriores nesse sentido.
Já estive muito perto de o conseguir. Com estas vitórias estive muito próximo de chegar à quarta ronda em singulares e a essa segunda semana. Não sei se falta alguma coisa ou não, sei que tenho de continuar a trabalhar, a dar o meu melhor e a acreditar que é possível para tentar chegar lá.
– 2016 foi, também, um ano olímpico em que cumpriste um dos teus maiores objetivos. Que importância achas que aquela semana no Rio de Janeiro terá na tua carreira quando daqui a uns anos olhares para trás e fizeres uma passagem rápida pelos vários momentos do teu percurso como jogador?
Vai ser bom, vai ser muito especial. Era um grande objetivo que já tinha traçado há algum tempo com o Frederico. Foi com enorme satisfação que cheguei ao Rio e pude concretizar esse sonho e vai ser sempre uma semana muito especial para mim quando pensar nela. Representar Portugal é sempre um orgulho e fazê-lo em particular nos Jogos Olímpicos, em que partilhámos experiências com vários jogadores e atletas de outros desportos foi um motivo de orgulho muito grande.
– Pelo segundo ano consecutivo, o Nadal convidou-te para uma semana de treinos [em dezembro]. O que é que esperas poder retirar de melhor de uma semana de preparação com um dos melhores do Mundo?
Vai ser muito bom, sem dúvida. Tal como no ano passado, o Rafa convidou-nos e é muito bom voltar a poder privar e partilhar histórias e experiências com uma pessoa como ele e com toda a sua equipa, agora na academia que ele inaugurou. É uma semana muito boa para preparar a temporada e trabalharmos, em conjunto, vários aspetos do meu jogo.
– Já tens algum esboço de calendário para 2017?
Sinceramente ainda não temos nada muito definido. O Frederico ainda está de férias, eu já estou a começar a preparação para o próximo ano mas ainda não definimos bem o calendário. Devo começar em Auckland, na Nova Zelândia, como nos últimos anos, e depois há o Australian Open, a Taça Davis e em princípio a seguir vou disputar a série de torneios na América do Sul antes dos Masters (1000 de Miami e Indian Wells).
– E a nível de objetivos, como é que os defines? Pensas em rondas, pontos, posições, podes falar um pouco desse processo?
Não, não. Sinceramente não penso muito nisso e temos sempre objetivos muito realistas, sem pensar no ranking e concentrados em somar o maior número de vitórias possíveis para continuar a evoluir. Este ano eu e o Frederico ainda não pensámos muito nisso mas vai ser mais ou menos como nos anos anteriores, em que nos focámos em continuar a melhorar o meu nível de jogo porque sabemos que assim os resultados aparecem.
– O ano abre praticamente com a Taça Davis e Portugal está a atravessar um dos seus melhores momentos de sempre, contando com dois jogadores no top 100 mundial. Acreditas na tão desejada chegada ao Grupo Mundial?
Acredito, sim. É realmente um grande objetivo nosso e que nos deixaria muito contentes. Temos uma boa equipa, com jogadores muito bons e muito unidos e acredito que podemos ultrapassar estes dois obstáculos e chegar lá pela primeira vez.
– Já na parte final da temporada sofreste uma lesão no joelho, um “pequeno susto” que te prejudicou durante algum tempo. Ainda tens cuidados especiais ou estás prontíssimo a “atacar” 2017?
Estou bem, felizmente totalmente recuperado e sinto-me pronto para o próximo ano. Já não sinto nada portanto foi, como disseram, apenas um pequeno susto.
– O aparecimento de torneios Challenger em Portugal tem sido referido como um objetivo pelo Presidente da Federação Portuguesa de Ténis. Quão importante seria para o nosso país organizar mais torneios desta categoria?
A acontecer penso que seria muito bom e importante para o desenvolvimento do ténis porque os torneios Challenger já são torneios de uma categoria elevada e com muito bons jogadores, como se pôde ver na edição do torneio de Guimarães, e que acrescentariam ainda mais importância ao ténis português.
– É unânime dizer que 2016 foi uma época surpreendente quer num, quer noutro circuito. No masculino, o Djokovic dominou até Roland Garros e o Murray fez uma segunda metade de época quase perfeita. Acreditavas na ascensão do britânico ao primeiro lugar do ranking ainda este ano?
Surpreendeu-me, mas realmente exibiu-se a um grande nível. Penso que a meio do ano e na forma em que o Novak estava ninguém esperava que acontecesse, mas depois, e não querendo tirar mérito ao Andy, ele desceu um pouco o nível e aí sim o Andy elevou o seu até que terminou a época numa forma fantástica. Fico feliz por ele, é um grande jogador e de facto mereceu o que conseguiu depois desta época.
– Ao mesmo tempo, o Federer esteve ausente de grande parte da temporada e o Nadal também longe dos seus melhores dias. Foi estranho não os ver em vários torneios ao longo do ano? Achas que o circuito sentiu a falta deles?
Tenho de dizer que sim porque são de facto dois grandes nomes do ténis e por isso foi estranho não os ver em vários torneios ao longo do ano, mas é algo que faz parte do ténis e do desporto.
Agora que estão recuperados acredito que vão voltar a um grande nível e que vamos voltar a ter os quatro melhores do mundo no topo.