A 129ª edição de Wimbledon aos olhos de Ricardo Cayolla

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Terminada a edição de 2015 do mais conceituado torneio de ténis do mundo, os campeões em singulares são óbvios: Serena Williams em femininos e Novak Djokovic em masculinos, os respetivos número um do ranking mundial. Será mesmo assim? É óbvio que não.

Nos masculinos, depois de Wawrinka ter ganho Roland Garros (e não ter sido Djokovic a perder, o que é muito diferente), não era certo que Djokovic aparecesse em Wimbledon na sua máxima confiança. Era um grande candidato à vitória final mas não o único pois também estavam Federer e Murray, para além de outsiders como Berdych ou Dimitrov. A apertada vitória contra Kevin Anderson nos 1/8 de final confirma isso mesmo onde, depois de ultrapassadas as últimas desconfianças/inseguranças, voltou a ser imperial. É o melhor jogador de ténis atual e com corda para mais tempo…

Federer faz um torneio excepcional, com uma meia final contra Murray em que roçou a perfeição. No entanto, para ganhar a Djokovic em cinco sets é preciso que o suíço esteja na sua máxima forma e que o sérvio esteja um pouco abaixo. E necessita de ganhar o primeiro set. Caso contrário, é impossível. Como se viu. Nadal despede-se de um torneio onde ficam patentes as suas debilidades atuais: uma falta de confiança enorme plasmada num serviço básico, uma direita sem “power” e uma esquerda de principiante. Confrangedor para um jogador com o seu currículo.

Nos femininos, o caso já é diferente. Serena sempre foi a principal (senão a única) candidata à vitória final. Serena apenas passa por dificuldades reais na 3ª ronda contra a britânica Heather Watson (62 46 75). De resto, todo o torneio foi controlado, com o exemplo da final onde esteve sempre a gerir o jogo.

Muguruza afirma-se numa superfície (relva) que não é a sua preferida (terra batida), tendo a sorte de um sorteio menos forte onde as principais adversárias (Halep e Kvitova) perderam prematuramente. Fazer dela o que agora não é (uma supercampeã do futuro a curto prazo) parece-me um pouco arriscado. Depois da edição de Roland Garros de 2014, manteve-se entre as 25 primeiras do ranking mundial, o que me parece curto para quem agora recebe tantos e tão rasgados elogios das maiores campeãs mundiais (como o fizeram a própria Serena ou a Billie Jean King).

Serena tem um mérito enorme por ser grande campeã que é, reinventando-se quando passou para a casa dos trinta (ajuda preciosa de Mouratoglou como treinador e amante…) mas, o ténis feminino necessita desesperadamente de novas figuras, razão pela qual a entrada em cena de Muguruza é tão celebrada!

A edição do US Open de 2015 pode viver uma jornada histórica se Serena ganhar: faz o Grand Slam e alcança os 22 títulos de Graf. E se Djokovic tem ganho Roland Garros?

About Author

Ricardo Cayolla foi jogador profissional de ténis. Atualmente é responsável pela Cayolla academia de ténis. É comentador convidado de ténis no Eurosport e autor de cinco livros de ténis. Doutorado em Marketing e Estratégia, é Professor na Universidade de Aveiro.

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