Depois de derrotar na final do US Open o sérvio Novak Djokovic para se sagrar bicampeão do torneio norte-americano, o espanhol Rafael Nadal deslocou-se rapidamente a uma das muitas salas de conferências de imprensa do USTA Billie Jean King National Tennis Center, em Flushing Meadows, onde falou com os jornalistas presentes.
De seguida, poderá ler em português as perguntas mais sonantes da entrevista ao jogador maiorquino, traduzidas pela equipa do Ténis Portugal, e ainda ver o vídeo de toda a conferência de imprensa.
- Parabéns, Rafa! Foi uma belíssima batalha em court. Fale-nos das emoções por este título. Depois do encontro deixou-se cair no chão, fale dessas emoções.
“Muito obrigado. Sim, por algumas razões, esta época é talvez a mais emotiva da minha carreira. Senti que fiz tudo bem para ter a minha oportunidade aqui. Jogar um encontro contra um dos melhores tenistas da história, como o Novak, número 1 do mundo, provavelmente na sua superfície preferida, significa que tenho de ser quase perfeito, como eu disse há poucos dias. Significa muito para mim ter troféu comigo hoje, não? É simplesmente fantástico. Estou muito, muito feliz e quero agradecer a todas as pessoas que me ajudaram a tornar isto possível. É um momento realmente especial. Muito obrigado a todos, todos os fans, a minha equipa e a minha família.”
- Esteve longe do ténis durante mais de seis meses. Quão ansioso estava por sentir isto novamente?
“Nunca estive ansioso. Nunca pensei que isto pudesse acontecer, estava muito entusiasmado por voltar ao circuito e ser competitivo. Mas nunca pensei competir por tudo o que competi este ano. Todos os Masters 1000, dois ou três Grand Slams. É mais do que um sonho para mim, estou feliz por tudo. Sinto-me sortudo por tudo o que aconteceu desde o meu regresso. É verdade que tudo acabou por resultar, mas mesmo assim é preciso sorte para estar onde eu estou hoje.”
- Já ganhou este torneio anteriormente. Diria que o seu jogo mudou e evoluiu, e como é que evoluiu desde a última vez que conquistou este torneio?
“É sempre o mesmo. Sempre que alguém está a ganhar, é preciso escrever alguma, e as pessoas pensam que algo mudou. Mas a realidade é que estou a jogar bem. É tudo, certo? Porque eu estou a jogar bem, estou a ser capaz de me manter competitivo e ter oportunidades de vencer todos os jogadores. É verdade que estou a jogar de forma um pouco mais agressiva do que antes, mais dentro do court, mais perto da linha de fundo, tomando mais a iniciativa dos pontos. Mas tudo isto é possível porque estou a jogar bem e estou confiante. Falando de uma grande mudança, eu não a vejo. De facto, não consigo ver uma mudança significativa no meu jogo. Apenas confiança, jogar com uma grande paixão, lutar por cada bola, sentir-me bem emocionalmente, isso faz o sucesso. A única mudança a denotar é que estou a jogar mais dentro do court e de forma mais agressiva, com a determinação certa. Mas o resto mantém-se igual.”
- Portanto, 13 Grand Slams. Hoje teve um estádio de 23 mil espectadores a apoiá-lo. Por todo o mundo, milhões de pessoas admiram-no. O que considera que o torna um homem tão especial? Porquê que acha que isto acontece? Qual a razão de tantas pessoas o seguirem?
“Não sou a pessoa certa para responder a essa pergunta (sorrindo). A única coisa que posso dizer é que tento ser justo. Tento ser correcto e amigável com toda a gente. É tudo, certo? Penso que no court sou uma pessoa positiva. Não sou um jogador negativo. Tento dar o meu melhor em todos os momentos. Mesmo quando as coisas não estão a correr bem ou estão a correr bem, nunca estou muito triste, ou com uma atitude negativa em court. Fora do court tento dar autógrafos a todos e tirar as fotografias. Ajo como uma pessoa normal (sorrindo).”
- Sente-se orgulhoso por continuar a melhorar o seu jogo cada vez mais? É algo que lhe dá orgulho, Rafa?
“No fim, resume-se sempre ao mesmo. É muito importante ganhar. Por isso, sim, este troféu faz-me muito feliz. Mas o que me faz mesmo feliz é o que eu fiz para o conseguir. Isso foi o que realmente me fez ficar emotivo, trabalhar nos momentos difíceis, ser sempre positivo. Muitas pessoas têm estado comigo nestes momentos, momentos difíceis. Foram vários os dias em que continuei a trabalhar por causa deles. Quando se vai ao ginásio todos os dias e não se vê os resultados positivos, perde-se um pouco a energia. Ter estas pessoas à mina volta nessa altura da minha vida foi decisivo. Continuei a trabalhar muito, porque eles me deram a energia positiva que precisava. Sem eles teria sido impossível ter esta oportunidade hoje. E todos os fans, também, eles apoiaram-me muito durante este período muito importante.”
- Com estes 13 troféus Major, só está atrás do Pete [Sampras] e do Roger [Federer] na lista dos melhores de sempre. Pode-nos dar uma ideia do que isto significa para si? Pode antecipar que os irá igualar? Afinal, ainda só tem 27 anos.
“Deixem-me aproveitar o dia de hoje (sorrindo). Para mim, é muito mais do que alguma vez imaginei que conseguiria, ou do que alguma vez sonhara. Já o disse há alguns Majors atrás, mas é verdade. Este, em particular, significa muito para mim. A única coisa que posso dizer é o mesmo de sempre. Vou continuar a trabalhar muito. Vou continuar a fazer o meu melhor para ter mais oportunidades no futuro e para ser competitivo de modo a ter mais torneios como este. É o meu objectivo. Nunca sabemos quando começa, nunca sabemos quando acaba, mas 13 é um número fantástico.”
- Houve um ponto de 54 pancadas no segundo set. O que lhe passou pela cabeça durante esse ponto? E considerou que a quebra de serviço pudesse significar algo mais?
“A sério, senti-me cansado depois desse ponto, mas disse, tenho o vento a meu favor agora. Perdi esse jogo mesmo com o vento a meu favor. Logo, após essa jogada o meu adversário também vai estar cansado, portanto é o meu momento para ser forte e ter a oportunidade de devolver a quebra. Foi o meu pensamento no momento. Tive de jogar com a máxima concentração e dar o meu melhor nos primeiros pontos desse jogo para ter a oportunidade de devolver o break. Em seguida, tive 40-15 no meu jogo de serviço para igualar o set a 4, mas o Novak jogou de forma fantástica para quebrar-me novamente. E foi isso. Mas o meu pensamento foi positivo. Iria ter a minha oportunidade no jogo seguinte.”
- O que se lembra de ver a final do US Open na televisão, há um ano atrás. Lembra-se dos seus pensamentos e das suas emoções?
“Estava a aproveitar o encontro. Foi um grande duelo entre dois tenistas fantásticos. Sou um grande fã de desporto, grande fã de ténis, portanto gostei de ver a final no sofá de minha casa, penso que é tudo. Foi difícil não competir, mas ver o embate na televisão não foi difícil. Eu competi em muitos Majors e vi muitas finais na televisão (sorrindo) quando também estava a competir.”
- Antes de voltar, pensou ‘Se estou saudável, ainda vou estar no topo a competir por Grand Slams’?
“A dúvida é se estou saudável ou não. No início cheguei a dizer a alguém, eu não sei. Quando voltei ao Chile para o meu primeiro torneio disse, o mais importante é estar saudável. Tenho a certeza que não são sete meses que me farão esquecer como jogar ténis. Mas, no fim, o mais importante e o mais difícil é estar saudável. Se estamos saudáveis e temos estado no topo por oito ou nove anos e pararmos por sete meses, porque não haveríamos de ter a oportunidade de voltar? É normal, se estamos bem e continuarmos a jogar com paixão e entusiasmo havemos de voltar ao topo. Estou confiante de que se estou saudável continuarei a ter oportunidades de competir pelos torneios. Ganhar dois Grand Slams num ano é algo que nunca imaginei. Mas se estou bem para competir outra vez? Sim. Não como logo no início, mas no terceiro torneio fui capaz de competir contra bons jogadores e, em seguida, ganhar um Masters 1000 no meu quarto torneio. Nunca pensei conseguir isso. Mas, após três, quarto, cinco meses, senti a confiança necessária para voltar a jogar a um bom nível.”
- Quando parte para Madrid? Depois de um mês tão longo, como se sente em jogar numa superfície diferente daqui a apenas três dias?
“Vou tentar. Não sei. Irei chegar quarta-feira de manhã, vou fazer o meu melhor para treinar um pouco da parte da tarde. Vamos ver como o meu corpo reage. tenho quinta-feira para treinar mais um pouco e se me sentir bem e o capitão considerar que sou o indicado para jogar na sexta, assim o farei, senão jogarei no sábado.”
- Roger [Federer] disse anteriormente neste torneio que a sua paixão por este desporto é mais importante quando as coisas correm mal do que quando correm bem. Partilha desta opinião?
“Não há dúvidas que o Roger adora este desporto, assim como o Novak, o Andy, e eu próprio, como é óbvio. Todos temos esta paixão por este desporto. Porque se não o sentirmos, é impossível sermos regulares, estar em court a lutar durante anos e anos e continuar a praticar e a praticar para ter oportunidades de triunfar. Quando não se tem este sentimento especial e esta paixão pelo ténis, é impossível. Hoje em dia, todos os grandes tenistas têm esta paixão. É por isso que são capazes de me permanecer no topo e lutar até às últimas rondas de cada torneio.”
- Quantas hipóteses dá a si próprio de se tornar um especialista em recinto coberto e conquistar o Masters Cup? Porquê que ainda não o conquistou?
“Sim, sinto que sou azarado nesse aspecto, em que todos os Masters Cup que disputei foram em piso rápido coberto. É uma superfície onde é mais difícil para mim jogar bem. Não é o dia para o dizer, mas é algo que considero injusto. Visto que, no final do ano qualificamo-nos para o último torneio quando os oito melhores jogadores têm jogado ao ar livre,em recinto coberto, piso rápido, piso rápido ao ar livre, em relva, em terra batida, qual a razão para o último torneio ser todos os anos em piso rápido coberto? Mesmo que eu entenda que no mesmo jogamos numa cidade em que somos forçados a jogar em recinto coberto. Porque não podemos jogar numa superfície diferente todos os anos? Jogar em pisos diferentes daria a mesma oportunidade aos jogadores que se qualificaram em todas as superfícies.”
Fotografia de dgjourney gentilmente cedida ao Ténis Portugal.