Wimbledon, Dia 1: Quando a catedral abre portas, os melhores do mundo brilham

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Pela primeira vez desde 7 de julho de 2014 jogou-se ténis em Wimbledon. Ao longo dos últimos meses, os courts relvados do All England Lawn Tennis Club foram preparados com o maior dos cuidados para corresponder ao exigido pela organização do torneio e hoje, a 29 de junho, foram pisados pela primeira vez em quase um ano. Assim manda a tradição e assim se cumpre. Sobre a superfície, houve tempo e espaço para as primeiras grandes batalhas e uma despedida histórica.

Desde o início da temporada que os passos de Lleyton Hewitt estavam sob olhares atentos e hoje, à entrada para a 129ª edição do torneio mais histórico da modalidade, o australiano defrontava o finlandês Jarkko Nieminen num duelo de despedidas. De um lado, 34 anos; do outro, 33. Independentemente de tudo o que acontecesse, seria o último jogo do derrotado no Major britânico e acabou por ser Hewitt, o mais experiente (campeão em 2002) a despedir-se, mas não sem antes protagonizar a melhor batalha do dia e uma das que ficará certamente na história da edição do torneio.

De grandes pontos a acrobacias e os tão característicos ‘mergulhos’ para a relva a poucos centímetros da rede na tentativa (bem sucedida!) de executar um volley capaz de vencer um ponto que parecia perdido, Hewitt e Nieminen lutaram de igual para igual e nem por um minuto pararam de dar o tão desejado espetáculo. No final, o resultado (3-6 6-3 4-6 6-0 11-9 para Nieminen) acabou mesmo por ser o que ‘menos interessou’ tendo em conta o que foi jogado dentro do campo.

Mas não só dos dois trintões se fez a jornada. Não, não. Se para eles foi difícil, Novak Djokovic ultrapassou uma estreia difícil frente ao alemão Philipp Kohlschreiber em três partidas (6-4 6-4 6-4) pouco depois de Nick Kyrgios ter arrasado o argentino Diego Schwartzman por 6-0 6-2 7-6[6]), não esquecendo ainda a vitória sofrida, pelo menos na primeira partida, da pentacampeã Serena Williams sobre Margarita Gasparyan (6-4 6-1), que durante grande parte do parcial inaugural teve um break de vantagem. Curiosamente, também Lucie Safarova, a finalista vencida de Roland Garros, precisou de lutar muito até conseguir derrotar Alison Riske, por 6-3 5-7 6-3, e seguir para a segunda eliminatória.

Precisamente no maior e mais histórico court do complexo britânico, João Sousa fazia a sua estreia na edição de 2015 da prova frente ao mesmo adversário que em 2014 o afastara na eliminatória inaugural — Stanislas Wawrinka. Apesar de mais equilibrados, os parciais de 6-2 7-5 7-6(3) acabaram por ditar o mesmo resultado, num duelo em que o português não conseguiu quebrar por uma única vez o serviço do helvético, que continua assim sem ceder qualquer set frente ao pupilo de Frederico Marques nas três partidas já realizadas.

Maratonas. Feitas as contas, não faltaram jogos de longa distância

Do recordista Kei Nishikori ao sempre surpreendente Fernando Verdasco, a primeira jornada de Wimbledon protagonizou poucas surpresas mas vários e entusiasmantes duelos em mais do que três partidas. Se Milos Raonic cedeu de forma surpreende uma partida frente ao espanhol Daniel Gimeno-Traver (6-2 6-3 3-6 7-6[4]) numa superfície claramente favorável ao estilo de jogo do canadiano, mais dificuldades tiveram ainda o espanhol Fernando Verdasco — que precisou de ‘puxar dos galões’ para vencer Martin Klizan num dos melhores duelos do dia, por 4-6 6-2 6-3 6-7[5] 13.-11 e Kei Nishikori, o tenista da história com melhor registo em cinco partidas, que precisou de dos parciais de 6-3 6-7(4) 6-2 3-6 6-3 para se ambientar à relva e derrotar o italiano Simone Bolelli.

Feliz e inesquecível foi o dia do britânico Liam Broady, de 19 anos e convidado pela organização para disputar a prova, que de forma muito surpreendente conseguiu recuperar de uma desvantagem de dois sets a zero para derrotar o experiente australiano Marinko Matosevic pelos parciais de 4-7 4-6 6-3 6-2 6-3 e somar a sua primeira vitória em quadros principais de torneios do Grand Slam.

Velocidade de cruzeiro foi suficiente para o domínio total das ex-líderes do ranking

Sem esforços de maior. Assim se definem as prestações de Victoria Azarenka, Ana Ivanovic, Maria Sharapova e Venus Williams (por ordem de entrada em court) na primeira jornada de Wimbledon. Pontos comuns? Todas elas venceram em parciais diretos, sem grande oposição das adversárias e, mais significativo, já todas passaram pelo primeiro posto da hierarquia feminina. Das quatro, duas sabem o que é vencer na relva de Wimbledon.

Enquanto Victoria Azarenka se tornou numa das primeiras vencedoras da edição de 2015 do torneio ao derrotar a estónia Anett Kontaveit por esclarecedores 6-2 6-1, Ana Ivanovic precisou de ainda menos jogos (6-1 6-1) para vencer Yi-Fan Xu, que não apresentou armas suficientes para combater o jogo ofensivo da sérvia.

No mesmo campo que a sérvia, Venus Williams brilhou ao arrasar por completo a norte-americana Madison Brengle num jogo de sentido único. Os parciais? 6-0 6-0, que a colocam mais perto de um possível e entusiasmante duelo frente a Serena, a sua irmã, na não tão longínqua quarta eliminatória. Quanto a Maria Sharapova, a russa derrotou a britânica Johanna Konta por 6-2 6-2 no encontro que antecedeu a batalha luso-helvética em pleno Centre Court.

Amanhã há mais magia em Wimbledon.

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gasparlanca@tenis-portugal.com | Dar palavras a um encontro de dois, três, quatro ou cinco sets, com ou sem tiebreak. Dar palavras a recordes, a histórias. Dar ténis a todos aqueles que o queiram. Mais, sempre mais. Foi com o objectivo de fazer chegar este capítulo do desporto a mais adeptos que fundei o Ténis Portugal em 2010. Cinco anos depois, fui convidado a ser co-responsável pela redação dos conteúdos do website, newsletter e redes sociais do Millennium Estoril Open.

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