E tudo a Austrália levou

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3, 2, 1… e puff! O Australian Open que marcava verdadeiramente o início da época de 2015 já acabou. Depois de duas semanas de bastantes diretas ou, pelo menos, de poucas horas de sono para os fanáticos portugueses da modalidade é hora de recuperar. Mas, por outro lado, também é hora de um balanço deste enorme evento.

Dois quadros, dois pesos bastante diferentes. Se no lado do masculino, apesar de algumas surpresas, os cabeças-de-série predominaram, no lado feminino, ronda após ronda, pareciam ‘tordos’ a cair. E se tivemos uma final feminina entre as duas favoritas, tal podia perfeitamente não ter acontecido já que Serena e Maria estiveram longe de terem uma caminhada tranquila, principalmente a russa que salvou match points pelo caminho.

No quadro masculino verificou-se que a nova geração continua a mostrar que lhe falta um pequeno passo para se colocar ao lado dos grandes nomes da modalidade. Rafael Nadal e Roger Federer ficaram cedo pelo caminho, principalmente o suíço – será este o ano da verdadeira quebra? Guardarei o assunto para outra altura -, mas Andy Murray mostrou estar a recuperar o ténis que lhe deu dois Grand Slams e uma medalha de ouro olímpica e Novak Djokovic continua a dominar o circuito a belo prazer.

E pego nestes últimos dois nomes para fazer alguns reparos sobre a final masculina. Foram estes dois jogadores que fizeram desta final uma pequena recordação de níveis surreais de ténis que se viu, por exemplo, no Australian Open 2012, um dos melhores Grand Slams da história a nível exibicional. Mas, por outro lado, mostrou o porquê de Djokovic e Murray não se conseguirem colocar ao lado de Federer e Nadal no que toca a exemplos de prestígio e de serem estandartes desta modalidade.

Nenhum dos dois consegue ser consensual, trazem polémica e a final do Australian Open 2015 provou isso mesmo. Novak Djokovic, detentor já de 8 finais de Grand Slam, continua a justificar a falta de apoio que geralmente recebe nas bancadas comparando-o com outros grandes nomes. Aquele bluff, que já começa a ser “trademark” no sérvio, revela alguma falta de fairplay e respeito pelo adversário e pelo espetáculo que nunca poderá colocá-lo como um dos maiores nomes da modalidade. Por outro lado, vimos um Andy Murray que, apesar de ter razão, pegou neste tema e utilizou para justificar a sua quebra de concentração quando ele próprio já sabe que o sérvio geralmente tem este comportamento, e até já aconteceu contra o escocês.

JOÃO SOUSA E A ARMADA PORTUGUESA ESPALHADA PELO MUNDO

Na minha primeira crónica — “Olá, 2015” — fiz uma pequena antevisão do que poderia ser a época para os tenistas portugueses. Um dos principais temas foi ter visto um João Sousa melhor, tentando ser mais calmo, com um primeiro serviço mais eficaz. E foi isso que vimos no Australian Open. O vimaranense voltou a fazer história e só parou perante uma das melhores exibições de Andy Murray durante o torneio. E, mesmo assim, um pequeno abaixar de nível foi suficiente para Sousa ter ficado perto de forçar um quarto set ao britânico. Excelentes indícios do João para a nova época e, aquando da escrita desta crónica, o número um português já tinha passado facilmente a primeira ronda do ATP 250 de Montpellier sobre o convidado Lokoli.

Por outro lado, Gastão Elias começou mal 2015 ao somar duas derrotas, incluindo uma saída prematura da fase de qualificação do Australian Open. Mas o português reencontrou-se no Challenger de Bucaramanga e realizando uma exibição de alto nível perante o favorito Alejandro González, que estava a jogar em casa e com um enorme apoio, e trucidou literalmente o colombiano. Alguns dos problemas continuam lá, ainda assim. Elias acabou por voltar a tremer num momento decisivo da final, mas mostrou ter ténis para derrotar a “velha raposa” do circuito, o espanhol Daniel Gimeno-Traver. Não entendo muito bem a escolha de calendário do português, que vai jogar esta semana em indoor piso rápido depois de ter jogado em terra batida, este foi dos melhores torneios que Elias fez no último ano, ano e meio, o que só dá grandes esperanças para o que poderá ser 2015.

Por fim, e ainda sem os regressos de Frederico Gil e Pedro Sousa, e sem mais grandes resultados de destaque, realce para o circuito júnior onde teremos dois portugueses a jogar Grand Slams muito brevemente. Tendo passado um pouco pelo circuito português, era opinião unânime que muito mais depressa Felipe Cunha e Silva seria jogador profissional do que o seu grande “rival” na mesma geração, Nuno Borges, que até é o campeão nacional de sub-18 em título. Mas ambos estão a provar que estão aí para as curvas. Ambos estão numa digressão sul-americana a jogar ITF de Grade 1, dos níveis mais altos do circuito júnior, e apresentam resultados que já não se viam desde Frederico Silva e, ainda mais para trás, foram poucos os que conseguiram fazer o mesmo. Neste momento estão os dois no top-90 do ranking ITF e muito provavelmente farão parte da comitiva que jogará em Roland Garros. Há luz nas camadas jovens portuguesas e excelentes jogadores estão ainda por aparecer.

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Praticamente 7 anos a servir o Ténis Portugal baseando-me numa paixão desmesurada.

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