Campeã do US Open pela quinta vez na sua carreira, a norte-americana Serena Williams conquistou o seu décimo sétimo título do Grand Slam na vertente de singulares, igualando a marca de Roger Federer, estando a apenas cinco troféus major de atingir o recorde da alemã Steffi Graff, que pôde celebrar por vinte e duas vezes a vitória em torneios da categoria.
Em conferência de imprensa, a mais nova das irmãs Williams (actualmente com trinta e um anos) abordou estes e outros assuntos, como um encontro a Serena Williams que aos dezassete anos conquistou pela primeira vez um título do Grand Slam e a de trinta e dois, que hoje celebra a sua décima sétima vitória. O Ténis Portugal traduziu e permite-lhe ler as partes mais importantes da conferência, disponível ainda na íntegra através de um vídeo apresentado no final do artigo.
- É óbvio que ganhar Grand Slams, são todos experiências especiais. Mas ganhar depois de enfrentar aquela adversidade no segundo set, ultrapassar qualquer obstáculo que tenha atravessado o caminho e recuperar para ganhar um terceiro parcial da forma dominante como ganhou, valoriza-o mais por ter conseguido este feito dessa maneira?
“Sim, penso que depois desse momento [Williams liderou por 4-1, uma vantagem de dois breaks, antes de perder o segundo set no tiebreak] é muito bom vencer simplesmente o encontro, mas preferia tê-lo feito em sets directos. No entanto, quando se joga contra uma grande jogadora como a Victoria [Azarenka] temos de ser capazes de perceber que tudo pode acontecer e continuar a lutar por todos os pontos.”
- Quais são os seus pensamentos nas marcas histórias à sua frente em termos de Majors, incluindo Steffi Graf com 22 títulos, tendo em conta que tem quase 32 anos de idade?
“Não penso nisso. Sempre disse que não me preocupo com a idade e que me sinto muito bem, melhor do que nunca. Consigo disputar um torneio como este em singulares, pares, com horários muito complicados. No geral, sinto-me muito bem, como não me sentia há muito tempo. Estou entusiasmada com as possibilidades que tenho mas não sei o que pode acontecer, vou simplesmente continuar a jogar e a dar o meu melhor.”
- Como é que a forma como está a jogar agora se compara com outras alturas da sua carreira?
“Penso que fui muito sólida ao longo de todo o torneio. Hoje provavelmente não mostrei o meu melhor ténis do torneio, mas aconteceram muitas coisas ao mesmo tempo frente a uma boa jogadora, foi bom conseguir ganhar.”
- Tem sido tão dominante este ano. Sentiu que precisava de um segundo título do Grand Slam?
“Completamente, sim. Sentia-me quase desapontada com o meu ano, para ser sincera. Eu sei que tinha ganho Roland Garros mas não me sentia bem com as minhas exibições nos outros torneios do Grand Slam e ao não chegar aos quartos-de-final num deles, razões pelas quais me sinto muito melhor depois de ter conquistado um segundo título em torneios desta categoria na presente temporada.”
- Toda a gente fala dos números da Crissy e da Martina e até da Steffi. Também está agora empatada com o Federer, alguém da sua geração. Isso tem algum significado especial para si?
“É uma hora estar empatada com o Roger [Federer]. Ele tem vindo a ser um grande campeão ao longo dos anos, um competidor incrível e provavelmente ainda pode ganhar mais alguns títulos. É muito bom para mim estar na mesma liga que ele. […] Em relação a ser comparada à Crissy e à Martina, ainda não, porque estou muito longe dos records delas. Não me consigo comparar a elas porque segundo os números elas ainda são melhores.”
- Tocaram ‘Party Like it’s 1999’ no sistema de som do court depois da sua vitória. Estou curioso se poderia descrever as diferenças entre ganhar hoje e ganhar em 1999, com 17 anos de idade, o que aprendeu no processo.
“Bem, foi incrível ganhar aos 17. Foi uma sensação fantástica. Por alguma razão, eu nunca pensei que fosse perder naquele ano. Eu simplesmente sabia que ia ganhar. A diferença é que ainda não assentei. Penso que por estar com uma vantagem tão grande no segundo set [Williams liderou por 4-1], não aproveitei as minhas oportunidade, ainda estou a pensar naquilo que que poderia ter feito melhor e porque não o fiz. Quando eu tinha 17, lembro-me que aproveitei todas as minhas oportunidades no momento certo, consegui os winners e não fiz erros. Foi óptimo. Mas, sendo mais velha, é sempre fantástico e uma honra, porque não sei se ganharei mais algum Grand Slam. É claro que espero que aconteça, digo isso cada vez que ganho um. Mas, na realidade, estou muito entusiasmada com tudo isto.”
- Voltando a 1999, uma hipotética questão: Se a Serena Williams de 17 anos enfrentasse a Serena Williams de 31, quem ganharia e porquê?
“Não sei. Tenho visto filmes de quando tinha 17. Lembro-me de defrontar a Steffi Graf em Indian Wells, e, bem, eu era tão boa (risos). Não faço ideia como. Eu vinha à rede, eu? Fazia volleys, pensava, eu fazia volleys? Portanto, não sei. Ambas somos lutadoras, nunca desistimos. Seria interessante de ver.”
- É uma pessoa muito emocional. Podia falar-nos um pouco sobre o alcance das emoções que passa no court, a celebrar, a gritar, o que diz quando parece muito calma? Parece que tenta manter-se muito calma.
“Sim, eu acho que por vezes quando digo ‘Come on’ demasiado, fico sem fôlego. Por isso tento controlar-me nesse aspecto. Tento manter tudo num mínimo, mas nem sempre tenho de ser eu. Eu digo, de facto, ‘Come on’, muito. Desde que me lembro, entusiasmo-me muito no court. E apercebi-me de que se não o estou a fazer, tenho tendência a não jogar bem. Tento encontrar um equilíbrio feliz.”
- A jornada desde a Serena de 17 anos até ganhar 17 títulos do Grand Slam é uma longa jornada. Olhando para trás, quanto sacrificou 14 anos atrás, ganhando um Grand Slam? Visto que está por dentro de tudo, já experienciou tudo em court. Quanto sacrificou por momento?
“Não o vejo como um sacrifício para mim. Vejo-o com uma oportunidade de estar aqui e fazer o melhor que posso. Sim, talvez não me tenha divertido a andar com outras pessoas e não tenha saído enquanto adolescente, talvez não tenha vivido, mas não trocaria isto por nada. Sinto que é mais uma oportunidade que tive. Foi-me dada uma possibilidade em que podia jogar ténis e ser boa nisso. Talvez, para mim, não foi um sacrifício.”
- Agora já conquistou o US Open, Wimbledon e o Open da Austrália por cinco vezes cada um. Como é que compara o seu caminho nestes três torneios? Está surpreendida por este [US Open]estar aos nível dos outros dois? Estaria a ficar para trás?
“Sim. Eu cheguei à final aqui [Nova Iorque] nos últimos três anos, e isso tem sido muito bom. Nunca pensei que ganharia o Open da Austrália cinco vezes. Isso também é fantástico. Wimbledon é um pouco diferente. Mas, este [US Open], sempre me pareceu nunca ter ganho muitas vezes. Agora posso dizer, sim, também ganhei este algumas vezes, igualmente. No geral, é uma sensação fantástica ter vários títulos em cada um dos três, sim.”
- Sei que disse que não podia falar muito dos membros da sua família e do que eles lhe disseram, mas a sua ilrmã, Venus, que contribuição é que ela continua a dar? O que é que ela lhe diz antes de entrar em court? Como é que partilham momentos das vossas carreiras? Ela já passou por isto, é uma grande vantagem.
“Ela [Venus] tem sido incrível. Ela é tão positiva no camarote. No meio de todas as vozes, eu oiço a dela. Frequentemente, a voz dela é a única que consigo ouvir, não sei porquê. Eu consigo ouvi-la a ser tão positiva e isso é muito muito bom para mim, porque normalmente sou muito dura comigo mesma e fico negativa em certas alturas. E por isso, o facto de ela estar sempre lá, e ouvi-la a apoiar-me incondicionalmente é óptimo para mim. A minha carreira não seria o que é sem ela, porque quanto ela estava a crescer e a jogar, sempre que ela perdia, eu perdia. Devido a isso, senti que fui capaz de amadurecer mais depressa porque vi-a passar pelas vitórias mas também pelas derrotas, e como tal não tive as mesmas derrotas e fui capaz de desenvolver mais rapidamente. Foi uma grande oportunidade para mim.”
Fotografia de Christopher Levy, gentilmente cedida ao Ténis Portugal.